terça-feira, 16 de janeiro de 2007

(In)Consciência


Em 1998, o então Bispo de Viseu recomendava que os católicos favoráveis ao sim no referendo abandonassem a igreja e se dedicassem a outros cultos. Não satisfeito, comparou as consequências da despenalização da gravidez aos «campos de extermínio nazis». No ano de 2007, o actual Bispo de Bragança continua na senda dos mandamentos religiosos para as massas. Para ele, o aborto «é uma variante da pena de morte». Para proferir tais juízos categóricos, ambos devem ter mergulhado no manual de boas práticas da inquisição religiosa, nos tempos onde a igreja atirava à fogueira todos os seres desviantes à doutrina cristã(?).
Aquilo que é uma questão de consciência individual está, a cada dia que passa, a servir de arma política e religiosa. O que está em causa não é aquilo que cada um faria, mas a possibilidade de escolha para quem se vir num momento de difícil decisão. Essa liberdade é individual, certamente dolorosa, que como um fantasma levitará na consciência de cada um. Longe de credos ou ensinamentos.

1 comentário:

Miguel Almeida disse...

«Essa liberdade é individual (...)» Subscrevo.

Foste buscar o tal do Bispo mas podias referir um conjunto de outras personalidades, grupos de pressão e outros "artistas" da nossa praça que já se manifestaram com argumentos igualmente, hmmm, vá lá, falaciosos... just to say the least.

Tenho a convicção que esta campanha (e esta é uma designação, no mínimo, aberrante) ainda nos vai brindar com mais algumas destas observações de quem - com toda a certeza! - nunca parou para reflectir sobre o direito que NÃO TEM para emitir juízos de valor sobre as decisões que, nesta matéria, devem ser exclusivamente individuais.

Um último apontamento: acho particularmente interessante a forma como se distorce o que está em causa neste referendo. A avaliar por algumas "palavras de ordem", parece que o aborto seria legalizado e até, quiçá, promovido. Parecem omitir propositadamente o que está verdadeiramente em causa: a sua despenalização. Apenas a despenalização.

E já foi longo. Fica bem ; )