Um dia depois das comemorações do 25 de Abril, surgiu o anúncio pomposo da criação de uma nova e moderna PIDE. O governo socialista, (in)confesso adepto de uma sociedade bem comportada e sujeita a vigilância apertada, anunciou a publicação de um guia para incitar o funcionalismo público à denúncia. Deve ter passado, pela cabeça de Sócrates e seus delfins, a imagem colorida de um gigantesco exército de 700000 espiões, sussurrando ao governo todas as diabruras vividas no posto de trabalho e prontamente sancionadas pelo grande irmão, melhor amigo dos mais desfavorecidos.
Não bastava o cartão "5 em 1", que permite a qualquer autoridade o controlo da vida privada de cada um dos portugueses; não chegava o controle da polícia passar para a tutela directa de um secretário-geral, camuflada debaixo do bonito adjectivo "coordenação"; não foi suficiente a criação do Conselho Superior de Investigação Criminal, a que simpaticamente Sócrates preside e onde está também metido o procurador-geral da república; nem sequer foi suficiente a pressão feita à imprensa com o "caso Sócrates" - ainda se arranjou tempo para inventar uma Entidade Reguladora da Comunicação, onde reina um estatuto constitucional no mínimo suspeito.
Dois dias depois do 25 de Abril, a liberdade - que este país sempre desprezou e nunca quis compreender - está manifestamente em perigo. É um estado totalitário este que nos cerca.
(Inspirado na crónica de Vasco Pulido Valente, hoje no Público)
Sem comentários:
Enviar um comentário