domingo, 1 de abril de 2007

O transe do deserto


A fechar o ciclo dedicado a Paul Bowles, intitulado «Um Abrigo na Terra», o Grande Auditório do Centro Cultural de Belém foi palco de um concerto a duas velocidades, que começou com canto lírico e terminou com trance endiabrado vindo do coração do deserto.
A primeira parte foi preenchida por Robert Gildon (barítono) e Jeff Cohen (piano), que interpretaram pequenas peças da autoria de Bowles, divididas em três actos: Four Sons, Old American Songs e Secret Words: A Suit of Six Songs. Depois da tranquilidade lírica foi a vez de subirem ao palco os The Masters Musicians of Jajouka (com Bachir Attar), que transformaram o grande auditório num areal de perder de vista rumando a um estado de transe profundo. Não admira que a sua música hipnótica, assente em espirais musicais repetitivas e em crescendo, tenha sido encantatória para poetas, pintores e músicos da geração beat. Uma noite de descoberta que despertou o desejo de uma visita ao deserto do esquecimento. Para ouvir pequenos excertos de transe do deserto clique aqui.
«Jajouka é uma pequena aldeia situada nas montanhas do Rif, que se tornou conhecida pela sua música a partir de 1950, apos a passagem por esta localidade do poeta e artista da beat generation, Brion Gusin, e, mais tarde, em 1968, quando Brian Jones, um dos membros dos Rolling Stones, teve a oportunidade de gravar os músicos de Jajouka. Esta gravação foi editada em 1971 com o nome Brian Jones Presents The Pipes of Pan at Jajouka, tendo sido considerada como o primeiro álbum de World Music.
The Masters Musicians of Jajouka são todos desendentes de uma família de mestres míticos, os Attars, que viajavam com os sultões como músicos da realeza. Estão assciados aos escritores da beat generation Pawl Bowles e William Burroughs, e aos pintores Mohammed Hamri e Brion Gysin. Têm colaborado, actuado e gravado com artistas tão distintos como Ornette Coleman, Marianne Faithfull, Scanner, Lee Renaldo e Bill Laswell. Os músicos preferem viver e tocar perto do santuário do seu santo, Sidi Ahmed Shiekh, e raramente actuam fora de Marrocos».
In Pawl Bowles - Um Abrigo na Terra, Edições Centro Cultural de Belém

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