quarta-feira, 18 de abril de 2007

Um inesperado Pullitzer


Foi com grande espanto que o universo literário viu o Pullitzer ser entregue a Cormac McCarthy, um escritor tímido, reservado e que faz das sombras lugar de eleição para uma vivência recolhida do mundo. «A Estrada», o livro premiado, é descrito como uma viagem a um mundo apocalíptico escrita com a crueza de uma linguagem em carne viva. O The Observer olha-o como «uma meditação sobre a morte. A morte individual e a morte da humanidade».
Aos 73 anos, McCarthy vê-se reconhecido como um dos maiores escritores americanos da era contemporânea, ombreando com vultos comp Philip Roth e Don DeLillo. Em Portugal, e pela Relógio D`Água, estão publicados - além de «A Estrada» - «O Filho de Deus» e «Meridiano de Sangue».
O Fusco vai agora partir à descoberta deste escritor, convidando todos os leitores a fazerem uma peregrinação a este mundo de sombras. Entretanto, fica um excerto de «A Estrada»:
«Naqueles primeiros anos, as estradas estavam cheias de refugiados amortalhados nas suas roupas. Usavam máscaras e óculos de protecção, sentados na berma com os seus andrajos no corpo, quais aviadores reduzidos à indigência. Traziam carrinhos de mão a abarrotar de bugigangas, puxavam carroças ou reboques. De olhos a brilhar no crânio. Carapaças de homens sem uma réstia de fé aos tropeções pelos viadutos, como bandos migratórios numa terra febril. A fragilidade das coisas enfim revelada».

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