quarta-feira, 8 de agosto de 2007
(Des)Concertos e edredons
Continuando com uma política cultural onde reina a inovação e a criatividade, a Câmara Municipal de Setúbal voltou a promover na Feira de Santiago a fusão entre o urbano e o rural, numa mescla e partilha de sons que nem os The Streets ou a excêntrica MIA conseguiriam reproduzir em disco.
Enquanto que no palco escondido, mal iluminado e assente na poeira os artistas desenvolviam o acto criativo, ao seu redor, que nem fantasmas amigáveis, sons acompanhavam a actuação dando um estranho sentido às canções, quase como se se tratasse de música em construção embebida no espírito do free jazz.
Ao espreitar o (des)concerto dos Gaiteiros de Lisboa, o Fusco quase nem reconhecia o tema "Haja Pão", do brilhante "Sátiro" (2006). Acompanhando os instrumentos e a chegada do amolador, juntavam-se no ar mil e um fragmentos: nos speakers oficiais anunciava-se a presença na feira das "Farturas da Luizinha"; as gigantescas colunas do carrossel desvairado disparavam os greatest hits do verão quente de 2000 em Ibiza; a menos de 100 metros, numa carrinha com ar de contrafacção, uma senhora com uma mão na cintura e a outra num microfone com o som no cume mais elevado ia gritando palavras de ordem como "edredons", "fronhas", "lençóis" ou "pijamas", para delírio dos presentes. No palco, os Gaiteiros nem querem acreditar na sorte de poderem criar por entre esta muralha sonora.
Para o ano, já se fala na mulher dos edredons para grande dinamizadora do palco, apresentando os convidados por entre promoções especiais de fazer perder a cabeça. É bom saber que em Setúbal a cultura está em boas mãos...
2 comentários:
E se ainda fosse "só" a cultura a estar entregue ao desgoverno...
A "misturada" conseguida foi absurdamente vergonhosa.Não me parece compatível a feira (onde o pessoal vai comer bifanas, andar de carrocel e quem sabe comprar cuecas ou um edredon)e um concerto a sério!Todos merecemos qualquer coisa melhor!
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