quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Quem tem medo do Chuck?



Há quem diga que um escritor está sempre a escrever o mesmo livro, por muito que tente radicalizar o estilo ou mudar a esfera da imaginação. Porém, se há quem se tenha transformado numa fotocopiadora como Paulo Coelho ou Nicholas Sparks, outros insistem em apresentar em grande plano os diferentes ângulos de uma estranha modernidade. Querem um exemplo? Chuck Palahniuk. Em menos de dois meses, o Fusco mergulhou em cinco visões de modernidade pintadas de vermelho e negro.

Choke - Asfixia


Victor Mancini, em tempos estudante de medicina e um assumido viciado em sexo, é tudo menos um herói moderno. Para pagar a conta do centro onde a sua mãe disfuncional e de pouca memória está internada, Victor vive em dois hemisférios: durante o dia, trabalha num parque temático onde o tempo parou no século XVIII; à noite, percorre os restaurantes ainda não riscados das páginas amarelas representando um acto de falsa asfixia, que lhe permite receber postais e dinheiro daqueles que se sentem resposáveis por lhe ter salvo a vida. Um retrato satírico dos traumas de infância e do sexo sem quaisquer ideais de romanticismo.


Lullaby - Canção de Embalar

Carl Streator, um viúvo quarentão que prepara um artigo sobre morte no berço para o jornal onde trabalha, descobre um padrão nas cinco mortes que acompanha: em todas as casas habita o Livro de Poemas e Rimas do Mundo, parado ou marcado na página 27 - uma canção de embalar com estranhos poderes. Juntando-se a Helen Hoover Boyle, uma agente imobiliária do universo de casas assombradas, Streator percorre o país em busca dos exemplares existentes. Porém, para lá do livro que perseguem, existe um outro ainda mais poderoso, onde estão escritos os feitiços que permitem ter todo o poder do mundo nas mãos. Um livro que é também uma metáfora sobre o livre-arbítrio e a pena de morte. Para o Fusco, a melhor escrita de Palahniuk habita estas páginas.


Diary - Diário

Em outros tempos, quando os homens se ausentavam em viagens longas, era um hábito que as mulheres - assim como eles próprios - mantivessem um diário, onde anotavam tudo o que de mais marcante faziam ou pensavam. No reencontro, trocavam os diários e punham as vidas em dia. Esqueçam esta visão romântica. "Diário" é tudo menos uma história feliz - trata-se de um diário de coma mantido por Misty Tracy Wilmot, enquanto o seu marido habita um hospital depois de uma tentativa de suicídio. Em tempos estudante de arte, Misty abandonou a carreira para ir viver com Peter para a Ilha Waytansea, onde com o nascimento da filha a arte se tornou silêncio. Porém, como que possuída por um espírito de uma das duas pintoras que habitou a ilha no século XIX, Misty volta a criar de uma forma bizarra, apoiada por todos os habitantes da ilha. Um livro sobre gerações e que gira à volta de uma ideia recorrente: nascerá toda a arte do sofrimento? O mais poético dos livros de Palahniuk.


Invisible Monsters - Mostros Invisíveis

Uma modelo habituada a estar no centro de todas as atenções fica com a cara irreconhecível depois de ser baleada num acidente de carro, tornando-se um monstro invisível. Adoptada carinhosamente por Brandy Alexander, a mulher que está a um pequeno passo da perfeição - e que no início do livro jaz numa poça de sangue pedindo que lhe contem a vida de uma ponta à outra -, empreende um engenhoso plano de vingança. Por vezes, um novo começo está mesmo à nossa frente, onde menos o procuramos.


Survivor - Sobrevivente

Conta em sentido regressivo a história de um sobrevivente de um estranho culto, Tender Branson, que sequestra um avião para cometer suicídio quando o aparelho perder os quatro motores e se espatifar em solo australiano. Enquanto o instante derradeiro não chega, Tender conta a sua história para a caixa negra do avião, "uma espiral de fio metálico que é o registo permanente de tudo o que resta".

Um retrato cruel da sociedade contemporânea, um cocktail de fruta madura ácida, uma sátira à educação moderna que programa o homem para chegar à perfeição sob o risco de exclusão e abandono, seja pela religião, seja pelo marketing - e não será a religião o marketing no seu estado de desenvolvimento pleno? Se não passar na televisão, se não existir audiência, então não é verdadeiro.

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