quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Um artista verdadeiramente singular
Há músicos que, no Fusco, são tidos quase como heróis de banda desenhada. Um deles é Beck, estrela pop de corpo inteiro, que recentemente lançou um projecto - chamemos-lhe assim - surpreendente: a edição de um livro de partituras, folhas que foram sendo esquecidas pelo tempo e que Beck recupera agora, como forma de entregar o acto criativo ao mundo. Fica um apanhado do que o jornal Público escreveu ontem - artigo completo aqui), bem como a interpretação de We Trust para o tema «Sorry» a convite do Público.
«Estas folhas com pautas, notas, letras e tempos, mais ou menos ilustradas, existiam antes de tudo o resto: dos gramofones, dos discos, dos rádios, do mp3, dos serviços streaming que põem a música em todo o lado e em lado nenhum. São a semente da indústria musical. E, no entanto, esquecemo-nos delas, arremessadas que foram para o reduto da música erudita ou das escolas de música.
Beck Hansen não se esqueceu. Num gesto raro (ou nunca visto, com esta escala) na música pop contemporânea, em vez de um novo álbum acaba de lançar Song Reader, uma colecção de composições suas em partitura. Em vez de as tocar, gravar e/ou produzir, o norte-americano deixa o terreno em aberto: fãs, é a vossa vez de gravarem um disco de Beck.
A ideia surgiu nos anos 90, mas só começou a materializar-se mais tarde. Começou a escrever canções sem o fim de as gravar. "Pode um artista ser demasiado generoso ao ponto do auto-apagamento?", pergunta a revista Atlantic num artigo sobre Song Reader. Pode: Beck escondeu-se.
É um gesto que tem tanto de anacrónico como de contemporâneo. Ao lançar estas canções desta forma, Beck abriu uma comunidade: o YouTube está repleto de versões, mais ou menos afinadas, mais ou menos respeitadoras dos apontamentos técnicos que deixou nas partituras. Como se 1910 tivesse regressado, sob a forma de uma webcam e uma ligação à Internet. Um movimento de participação que contraria a ideia de que a relação com a música é cada vez menos intensa devido à sua ubiquidade e desmaterialização.
Como diz Rosen, Beck explora um "papel cultural que a pop deixou para trás, quando escritores de canções profissionais e músicos amadores se relacionavam numa conversa íntima". "Estas canções estão aqui para receberem vida, ou pelo menos para nos lembrarem que, não há muito tempo, uma canção era apenas um pedaço de papel até que alguém a tocasse", escreve Beck no prefácio de Song Reader.
À rádio norte-americana NPR, Beck disse mais: "Quando compões uma canção, a gravas e editas um disco, é como enviar uma mensagem numa garrafa. Não tens muito feedback. Esta é uma forma de mandar essa canção e receber, literalmente, milhares de garrafas."»
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