Há coisas muito difíceis de explicar. Nos anos 1970, um músico de nome Bob Dylan tornava-se um ícone da música popular e de intervenção, e isto sem cantar grande coisa. Nesta mesma altura, um músico chamado Rodriguez gravava um disco extraordinário - e um outro muito bom -, chamado "Cold Fact", que nos Estados unidos terá vendido meia dúzia de discos.
Depois de ser posto a andar pela editora, Rodriguez fez-se à estrada e voltou a trabalhar no mundo construção, pondo de lado uma carreira musical que poderia ter sido de assombro, estudando filosofia e tentando intervir na vida pública. O que ele desconhecia, e desconheceu até ao final de 1990, é que "Cold Fact" se tornou num imenso sucesso na África do Sul (e também na Austrália), servindo de bandeira contra o Apartheid e simbolizando a ideia de liberdade pela qual o país ansiava.
Stephen 'Sugar' Segerman e Craig Bartholomew-Strydom, fãs de Rodriguez, passaram boa parte da sua vida tentando descobrir quem seria este Rodriguez, de quem nada se sabia. Rumores de suicídio adensavam mais ainda a dose de mistério à volta do cantor, que iam desde pôr fogo a si próprio a encher-se de drogas. "Searching for Sugar Man" (trailer aqui), do realizador sueco Malik Bendjelloul, apresenta este conto de fadas musical de proporções épicas, que mostra como, a partir do amor incondicional de dois fãs, se pôde honrar - ainda que tardiamente - uma figura incontornável da música popular. Stephen 'Sugar' Segerman e Craig Bartholomew-Strydom partiram em busca de um músico, e no final, encontraram uma espécie de profeta.
Ouçam os discos, vejam o filme - na corrida ao Oscar de melhor documentário - e, em Maio, dêem um salto ao Primavera Sound para o verem de carne e osso. Este homem merece todas as honrarias.
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