terça-feira, 20 de março de 2007

O panda alfacinha



Noah Lennox achou que o seu nome tinha pouco estilo, uma mistura do ténis robusto de Yannick Noah e do cantorio másculo de Annie Lennox. Vai daí pensou no seu animal predilecto e escolheu um nome artístico: Panda Bear - animal que Noah desenhou para a capa de uma das suas primeiras gravações.

A sua aventura a solo - Noah é mais conhecido por ser baterista dos Animal Collective - tinha conhecido dois capítulos: «Panda Bear» (1998) e «Young Prayer» (2004). Dois discos mergulhados na penumbra, num experimentalismo onde apenas havia espaço para tristeza - sobretudo com Young Prayer, escrito após a morte do pai e onde a dor da perda se arrastava sem espaço para contemplações. Porém, com «Person Pitch» - editado em Janeiro último -, Panda Bear abraça a felicidade e faz as pazes com o mundo, reencontrando cores, sons e reflexos que se escondem por detrás do ritmo a preto-e-branco das vidas modernas.

Não se trata de um disco fácil, de melodias lineares e refrões para se cantar a plenos pulmões. Esta pop electrónica soa a Beatles mergulhados no caldeirão de Panoramix, a uma visita de autocarro pelo coração da Índia onde nos vêm à memória os momentos marcantes de uma banda chamada Beach Boys. Trata-se de um disco que se descobre a cada audição, como um acto de magia: melodias subliminares, pássaros que cantam, trovões que rebentam, instrumentos que despertam, vozes que sussurram, cores novas que se juntam alegremente ao arco-íris clássico aparecem diferentes de cada vez que o escutamos. Há alturas em que até podemos imaginar «Person Pitch» como banda sonora para «O Grande Silêncio», de Philip Groning.

Os ares de Portugal fizeram muito bem ao urso panda - mudou-se para Lisboa há três anos com a mulher e a filha desde a morte do pai -, que com «Person Pitch» oferece à música mais um capítulo para ser escrito com letras de ouro e entrar nas «Mil e Uma Noites» da literatura musical. Um disco incrível.

Para ficarem com uma ideia geral é só clicar aqui. Se preferirem ver o vídeo para «Bros», sigam antes por aqui. Para quem não ficar satisfeito o Fusco mostra o caminho para uma pequena entrevista.

1 comentário:

Miguel Almeida disse...

Então e que tal se tu juntasses, em conjunto com estas notas, uns pointers para algumas destas músicas? Nem que fossem mais antigas, p'ra malta conhecer os grupos... Era útil, sabes? Uns sons integrados no post, por exemplo... Que tal?

Cheers on this B day! : )