O deus vai nu

Os dois anos e meio que passou no clube do animal imaginário conferiram-lhe o estatuto de deus terráqueo, que o próprio assumiu na nova aventura inglesa auto-intitulando-se de "the special one". Os dois campeonatos que conquistou ao serviço de Chelsea, a juntar a mais algumas taças, reforçaram o estatuto de origem mítica e ajudaram a revelar um lado de embelezamento: o deus da bola abria as asas e transformava-se também num símbolo sexual, invadindo tablóides, publicações sérias e servindo de inspiração a cd´s em nome próprio - o ego atingia altitudes só ao alcance de poderosas naves espaciais.

A presente época viu o mau feitio de Mourinho atingir proporções épicas. Após as muitas polémicas com Alex Fergusson, que se escudou no estatuto de Sir para não entrar em grandes ondas, vieram as polémicas recentes com Cristiano Ronaldo e o Liverpool. Ao primeiro previu um futuro pouco promissor devido ao facto de ser um rapaz dado à arte de mentir com todos os dentes; ao segundo atribuiu a aura de clube pequeno apenas com fôlego para provas de curta-duração.

Quando em alta, o mau feitio de Mourinho esconde-se por detrás das taças e ninguém lhe dá grande atenção. Porém, num ano que se avizinha ser de magras conquistas, "the special one" transforma-se na chacota de todos aqueles que visou nos seus devaneios verbais. Há quem carinhosamente chame aos ataques de José Mourinho "mind games ". Quanto a nós, preferimos designá-los de pura parvoíce. O deus, afinal, não passa de um simples mortal com um mau feitio do caraças.