segunda-feira, 25 de junho de 2007

Esta arte não é para menino(a)s



Para quem tem uma visão de que a arte resulta do sofrimento e da lamúria, Sophie Calle mostra que tudo não passa de um mito criado por gente mimada. Ao receber um e-mail de au revoir do namorado, onde o rapaz usava a tirada clássica de que era tudo para o bem dela, a artista rejeitou a opção de ficar a chorar que nem uma madalena pelos cantos da casa, à espera que a tortura interior a devorasse as entranhas antes de cuspir a matéria criativa.

A peça, para a qual a artista pediu a cumplicidade de 107 mulheres, chama-se "Take Care of Yourself". A primeira coisa que Sophie fez foi enviar um exemplar da carta a um "copy editor", que arrasou a gramática e o vocabulário do autor. O texto, com sublinhados a tinta negra e outras cores, está ampliado ao tamanho de uma parede do pavilhão.

Na parede aparecem também fotografias do rosto e comentários de uma especialista em etiqueta que ensina o "saber-viver". A senhora explica as falhas no código básico do amor que o senhor X - é assim que o rapaz da carta aparece identificado - quebrou.

Especialistas traduzem o original em latim, braille, código morse. Uma jornalista transforma o texto numa "breve" de agência noticiosa; um especialista em "puzzles" transforma-o num jogo de palavras cruzadas; uma professora do liceu trabalha-o como um conto de fadas de final infeliz. Numa sala cheia de vídeos, Calle faz o e-mail ser lido e comentado pelas actrizes Jeanne Moreau, Miranda Richardson e Vanessa Redgrave e pelas cantoras Peaches e Feist.

Para Sophie, está visto que chorar pela arte é coisa de gente mimada. Humor e ironia acima de tudo é o que se quer. Leia mais aqui.

3 comentários:

Anónimo disse...

Para mim, está eleita a artista do ano!

alexmanuela disse...

Fiquei com uma "certa pena" do senhor em questão! Foi ridicularizado de forma completa..Também quem o mandou "meter-se" com uma artista com tal poder de criatividade (e recusos!) Bom, lá tem direito aos tais "cinco minutos de fama"... De qualquer maneira não deixa de ser um estilo interessante de ultrapassar uma "violenta dor de cotovelo"..

alexmanuela disse...

*recursos, perdão!