sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

2007 e as rodelas sonoras / 2007 and the circles of sound



10 palmadinhas nas costas / 10 strokes in the head

É certo que não ganharam entrada no restrito grupo do G-20 de que falamos mais abaixo, mas a verdade é que andaram bem lá perto. Dez discos que merecem uma palmadinha nas costas.

They didn`t get an entry ticket to the G-20 restricted group we show above, but the truth is that they were close. Ten records that deserve a stroke in the head.

PJ Harvey "White Chalk"
Battles "Mirrored"
Air "Pocket Symphony"
Six Organs of Admittance "Shelter from the Ash"
Andrew Bird "Armchair Apocrypha"
Bill Callahan "Woke on a Whaleheart"
Fiery Furnaces "Widow City"
Mathew Dear "Asa Breed"
Spoon "Ga Ga Ga Ga Ga"
Radiohead "In Rainbows"



20 bons companheiros / 20 Goodfellas

Escolher os vinte discos que mais nos acompanharam em 2007 não foi pêra doce. Ainda mais porque houve conhecimentos que nos passaram ao lado, festas para as quais não fomos convidados, rodelas sonoras que não tivémos a sorte de devorar com a nossa imaginação. De qualquer forma, o Fusco revela os vinte melhores companheiros de um ano feito de boas surpresas.

To choose the twenty records that followed us the most during 2007 wasn`t an easy task. To make things even more scarry, there were knowledges that pass right through us, parties for wich we weren`t invited, circles of sound that we didn`t have the luck to devour with our imagination. Anyway, Fusco reveals the twenty goodfellas of a year made of good surprises.


20. The Shins | «Wincing the Night Away»



Pop frutado, psicadelismo em doses controladas, letras encriptadas para cantarolar enquanto se nada na banheira: uma aventura pelo planeta indie que julgávamos afastado do sistema gravitacional terrestre. Para ouvir enquanto despreocupadamente se coça o queixo, pensando nas coisas boas que a vida oferece.

Fruited pop, psychedelic mood in controled doses, cripted lyrics to sing along while swimming in the tub: an adventure on the indie planet we thought was away from the earth gravitational system. To listen to while scratching your shin in an absent way, thinking about the good things of life.



19. The Field «From Here We Go Sublime»



À superfície, assemelha-se a uma viagem hipnótica pelo mundo do techno mas, por detrás das batidas mecanizadas, esconde-se algo de mais grandioso. Imaginem regressar ao passado, numa espécie de sessão hipnótica comandada por um terapeuta musical de poucas falas. Olhar para instantes congelados no tempo como fotografias coloridas em movimento, até que os sentidos despertem e se apoderem de novo do que apenas vive na memória. Um disco simples, que em muitos momentos consegue atingir o centro do prazer bem no alvo.

At the surface, it looks like a plain hpnotic trip techno world but, behind the mechanized beats, something big is happening. Imagine going back to the past, in a hypnotic session lead by a music therapist that doesn`t talk much. Looking at frozen instants in time, like colorful moving pictures, until the senses awake and retake control over what subsists only in memory. A simple record, that in many moments tickles the pleasure centre right in the target.



18. Robert Wyatt | «Comicopera»



Uma bonita e rara caixinha de tesouros, onde cada jóia pode ser amada em isolamento.

A beautiful and rare treasure box, where each jewel can be loved in isolation.



17. Interpol | «Our Love to Admire»



Os rapazes continuam a soar como os Joy Division a trepar ao cimo de um arco-íris com as cores trocadas, como se tivessem descoberto o buraco da árvore que os levasse ao País das Maravilhas. Por um amor destes, só podemos mesmo sentir uma grande admiração.

The boys continue to sound like Joy Divison climbing up a rainbow with swapped colors, as if they`ve found the hole in the tree that takes them to Wonderland. For a love like this, we can feel nothing but admiration.



16. Tunng | «Good Arrows»



Uma deliciosa caixinha de música negra, perfumada com a essência da folk, onde uma bailarina se diverte ao som de uma experimentação com sabor a campo numa tarde cinzenta. Um disco que nos traz à lembrança o inverno, os pequenos demónios que nos habitam e uma vontade louca de não sair de casa. "We’re all going to end up dead and gone…", cantam os Tunng em "Hands". E nós cantamos com eles, espantando os desejos íntimos pintados a negro.

A delicious dark music box, perfumed with folk essency, where a ballerina has fun dancing to a sound that tastes like the field on a grey afternoon. A record that reminds us the winter, the little demons that inhabit us, and a crazy wish of never leaving home. "We’re all going to end up dead and gone…", sing Tunng in "Hands". And we sing along with them, and by so tricking our intimate desires painted in black.



15. Rickie Lee Jones | «Sermon on the Exposition Boulevard»



Testemunho pessoal do lugar que Cristo pode ocupar num mundo completamente lixado. Cru, intimista, feito de sussurros, gritado aos quatro ventos com uma fé capaz de mover montanhas. Com um sermão destes, o Padre António Vieira teria vendido mais livros que o «Código Da Vinci». Aleluia!

Personal testimony of the place Christ can have in a totally screwed up world. Raw, intimist, made of whispers, yelled at the four winds with a faith capable of moving mountains. With a sermon like this, Father António Vieira would have sold more books than «Da Vinci Code». Aleluia!



14. Laura Veirs | «Saltbreakers»



O country e a folk deram lugar a algo de maior e, se pudor havia em Laura Veirs escrever letras pessoais, assiste-se agora a uma espécie de nudez contemplativa. Uma música triste repleta de felicidade. A timidez, até agora imagem de marca, já era. E o campo, esse, não é mais que uma miragem.

Country and folk gave place to something bigger. And if there was some fear on writing about personal experiencies, we are now watching some kind of contemplative nudity. Sad music filled with happiness. Timidity, until now a Veirs personal mark, it`s gonne. And the field, is nothing but a mirage.



13. Of Montreal | «Hissing Fauna, Are You the Destroyer?»



O mundo dos Of Montreal é um universo musical construído com cenários retirados da Cartoon Network, servindo como estimulante banda sonora aos estranhos e belos desenhos animados que passam incessantemente no Nickelodeon. Os seus elementos poderiam, também, habitar dentro de um ZX Spectrum, vestindo-se como Chucky Egg`s na perseguição de ovos imaginários cozidos de todas as cores. Se os extraterrestres invadissem o nosso planeta, seria certamente este o disco que teriam a tocar no cockpit de uma nave espacial em puro delírio. Alienado, bizarro, maníaco e alegremente depressivo, deve ser ouvido num imparável loop.

Their world is a musical universe built with scenarios taken from Cartoon Network, serving as an OST for the strange and weird cartoons that pass on Nickelodeon. The band members could live inside a ZX Spectrum, dressed like Chucky Egg`s chasing boiled imaginay eggs painted in all colors. If a company of aliens invaded our planet, this would be the CD that would be playing at the cockpit of a spaceship in pure delirium. Alienated, bizarre, maniac and joyfully depressive, to be listened to in a constant loop.



12. Soulsavers | «It’s Not How Far You Fall, It’s the Way You Land»



Um caso bem sucedido de pregação. Contando com a voz repleta de cicatrizes do pastor Mark Lanegan, o disco actua como um ritual de celebração, um transe no qual nos deixamos levar de alma escancarada. Apesar de se notarem na leitura destes salmos influências como a do apóstolo Sparklehorse, trata-se de um sermão com direito a edição própria, saindo como separata a uma nova e renovada Bíblia. Esta é a banda-sonora ideal para todas as excursões e peregrinações com destino a Fátima.

A well succeeded case of preaching. With the voice full of scars from the shepherd Mark Lanegan, the record acts like a celebration ritual, a trance in which we enter with our souls wide open. Though we notice on these psalms the influence of the apostle Sparklehorse, this is a psalm that has earned the right of an exclusive edition, reaching the stores as a small book inside a new and renovated bible. The ideal OST for Fatima excursions and pilgrimages.

11. LCD Soundsystem | «Sound of Silver»



É considerado, em todo o planeta, uma das pessoas mais cool. James Murphy, o homem por detrás da editora DFA e da banda LCD Soundsystem, tem razões para sorrir. «The Sound of Silver» em nada é inferior ao disco de estreia, antes o supera em todos os quadrantes. James Murphy: mordaz, politicamente acutilante, um génio ao serviço do planeta. Definitivamente, este não é um disco de prata. Temos medalha de ouro.

He is considered, in all the planet, one of the coolest persons. James Murphy, the man behind DFA and LCD Soundsystem, has reasons to smile. «The Sound of Silver» is not inferior to his predecessor, in fact he beats it in all fronts. James Murphy: ironical, political activist, a genious serving the globe. Definetely, this is not a silver record. We have a gold medal.



10. Jens Lekman | «Night Falls Over Kortedala»



Jens Lekman, o trovador sueco com o coração mais palpitante dos países a norte do planeta, alugou o Barco do Amor e partiu à conquista do amor. Um cruzeiro a não perder por nada deste mundo.

Jens Lekman, the swedish bard with the most pumping heart in all countries set at north, rented the «Love Boat» and went in the conquest of love. This is a cruise not to be missed by anything in this world.



9. Patrick Wolf | «The Magic Position»



Um disco arriscado, gravado de peito aberto, balançando numa corda bamba feita de estranhos e mágicos acordes. Patrick faz coexistir o mundo da festa e da cor - como em "Magic Position" ou "Accident & Emergency" - com um universo denso e intimista - com o fabuloso "MagPie", onde Marianne Faithfull faz do mundo um quarto escuro -, e edita aquele que é de todos o seu disco mais transparente, experimental e genial: um kamasutra musical vivido num carrossel à escala interplanetária.

A risky adventure, recorded with open chest, swinging in a line made of strange and magical chords. Patrick makes a connection between the world of party and color - as in "Magic Position" and "Accident & Emergency" - and a dense and intimate universe - the fabulous "Magpie", where Marianne Faithfull tranforms the world into a dark room -, and gives us his most transparent, experimental and genious record: a musical kamasutra lived in a carrouseel of interplanetery dimensions.



8. Patrick Watson | «Close to Paradise»



Patrick Watson - que certamente terá como grande inspiração Jeff Buckley -, navega entre a composição clássica, o delírio folk e a pop iluminada como uma árvore de Natal vestida com bolas e fitas pretas. Adaptado ao cinema seria a banda-sonora perfeita para um filme de Tim Burton, tal é a carga espectral e fantasmagórica que habita cada um dos temas. Um disco ideal para momentos de introspecção e crises de identidade que necessitem de um ombro amigo.

Patrick Watson - who will for sure have Jeff Buckley as major inspiration -, navigates between classic composition, folk delirium and a pop iluminated as a christmas tree dressed up with black ornaments. If adapted to cinema it would be the perfect soundtrack for a Tim Burton movie, such is the spectral and spooky tension that lives in each one of the tracks. An ideal record for moments of introspection and identity crises wich require a friendly sholder.



7. Electrelane | «No Shouts no Calls»



Ao longo de onze temas abundam vozes no limiar da desafinação, orgãos e teclas desalinhadas, uma bateria cativante, guitarras que gritam numa intimidade sónica a caminho de um romantismo incediário. Na sua aparente vulnerabilidade e alguma dose de amadorismo, esconde-se uma aventura musical de proporções épicas. Um disco surpreendente, para ouvir bem alto até que os vizinhos batam à porta obrigando a um regresso à realidade.

During eleven tracks there are plenty of voices singing near out of tune planet, misaligned keyboards, a cativating drum, guitars that shout in a sonic intimacy running towards an incendiary romance. In its apparent vulnerability and some dose of amateurism, it`s hidden a musical adventure of epic proportions. A surprising record, to be listed to out loud until the neighbours knock at the door imposing a return to reality.



6. Arcade Fire | «Neon Bible»



Se com «Funeral» se passeava num mundo de sombras negras e almas destroçadas, onde violinos choravam entre lamentos e lágrimas, em «Neon Bible» respira-se um desejo de fé e uma vontade de acreditar que o mundo se vai tornar num sítio mais feliz. Os canadianos fizeram-no outra vez.

If with «Funeral» we walked in a world populated with dark shadows and apparted souls, where violins cried between sorrows and tears, in «Neon Bible» we breathe a desire of faith, and the will to believe that the world will become a happier place. The canadians did it again.



5. Panda Bear | «Person Pitch»



Não se trata de um disco fácil, de melodias lineares e refrões para se cantar a plenos pulmões. Esta pop electrónica soa a Beatles mergulhados no caldeirão de Panoramix, a uma visita de autocarro pelo coração da Índia onde nos vêm à memória os momentos marcantes de uma banda chamada Beach Boys. Trata-se de um disco que se descobre a cada audição, como um acto de magia: melodias subliminares, pássaros que cantam, trovões que rebentam, instrumentos que despertam, vozes que sussurram, cores novas que se juntam alegremente ao arco-íris clássico. O urso panda ofereceu à música mais um capítulo para ser escrito com letras de ouro e entrar nas «Mil e Uma Noites» da literatura musical.

It`s not an easy record, of straight melodies and choruses to be sang with full lungs. This electronic pop sounds like The Beatles dived in Panoramix`s pan, a bus trip to Indiawhere we are constantly remebered of a band called beach Boys. It`s a record to be found in each audition, as in an act of magic: subliminal melodies, birds that sing, thunders that explode, instruments that awake, voices that whisper, new colors that are added to the classic rainbow. The bear has offered music a new chapter to be written with golden lettres, entering in the «» of musical literarture.



4. Beirut | «The Flying Club Cup»



O mapa mundo dos Beirut tornou-se maior. Ainda se sente a inspiração balcânica, o pulsar de um espírito cigano pronto para uma festa de três dias sem dormir, mas agora o panorama é bem mais universal: esticam-se cordas melancólicas, ouvem-se sopros sofridos, servem-se arranjos deliciosos, exultam coros quase imaginários - desperta uma alma de adolescente pronta a enfeitiçar o mundo com o espírito do Flautista de Hamelin. Ao fim de anos de destruição, Beirut assina finalmente o tratado de paz.

Beirut`s world map has become bigger. We still feel the balcanic inspiration, the pulse of a gipsy spirit ready for a three-day-non-sleeping-party, but now the scenario is much more universal: melancholich musical ropes are streched, hurted blows are listened, delicious compositions are served, near imaginary choirs rejoice - a teenager soul wakes up ready to put a spell over the world with Hamelin spirit. After years of massive destruction, Beirut finally signs up a treaty of Peace.



3. The Good the Bad and the Queen | «The Good the Bad and the Queen»



Bem-vindos a uma Londres envolta pelas sombras da guerra, respirando os ares da globalização enquanto os patos deslizam despreocupadamente sobre o Thames. Não ouvir este disco é um crime musical, que dá direito a ficar sem sistema de som durante um tempo ilimitado.

Welcome to a London surrounded by war shadows, breathing the air of globalization while the ducks quietly slide over the Thames. Not listening this record is a musical crime, that implies the punishment of getting private of the soundsystem during ilimited time.



2. Burial | «Untrue»



Canções de parte alguma, vozes que se agitam na distância, um agitado silêncio que abana as placas tectónicas onde descansa o planeta. Ouvimos este album como um sonho, deixando-nos levar por amigáveis fantasmas. Sublime.

Songs that belong to nowhere, voices that are listened through the distance, a revolving silence that shakes the tectonic plakes in wich the earth sleeps. We listen to this record as if in a dream, letting us be taken by friendly ghosts. Sublime.



1. The National | «Boxer»



«Boxer» é um disco raro, um autêntico tesouro onde cada uma das pérolas se vai lentamente revelando, até nos atingir bem no centro do coração. Alegremente negro, entusiasticamente trágico, admiravelmente romântico. Um dos discos que vai ficar para a história da música.

«Boxer» is a rare record, a true treasure where each one of his pearls are slowly revealed, until it hits us right in the center of the heart. Joyfully dark, entusiastically tragic, admirably romantic. One of those records that will proudly compose the history of music.

3 comentários:

Parrovski disse...

Álbuns muito bons. Entre eles o que me mais marcou foi o da Laura Veirs - «Saltbreakers».

bitsounds disse...

tenho q ouvir melhor The Field , passou-me ao lado ! os outros são muito bons, especialmente Burial e Patrick Watson

Lusco Fusco disse...

Burial é um novo mundo de sonoridades, acho o disco sublime.

Quanto ao de Patrick Watson é de um negrume repleto de felicidade - tenho o palpite que o senhor estará no próximo Festival Para Gente Sentada, em fevereiro do próximo ano.

Já a menina Laura Veirs, acabou por editar o seu melhor disco até à data. Fez-se uma senhorinha!